sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Grupos revolucionários e guerrilhas da América Latina - Parte 1

Toda Sexta Feira um assunto de geopolítica/atualidades pinga aqui no blog. Hoje começaremos uma jornada pelo continente americano, falando sobre revoluções, revoltas ou grupos revolucionários.

Não usei critérios temporais para iniciar o assunto, usei apenas um mapa e apontei para o país que está mais ao Norte - no caso o México - para dar início aos trabalhos.

Mas o que falar do México? Aí embaixo temos a resposta.

O Movimento Zapatista e o Exército Zapatista de Libertação Nacional

Quem foi Emiliano Zapata?




















Chamado também de "Caudilho do Sul", Zapata foi um dos grandes líderes na luta contra a ditadura de Porfirio Diaz (líder assim da Revolução Mexicana de 1910).

Zapata nasceu em um país onde a concentração fundiária era cada vez maior. As grandes haciendas (fazendas) cresciam cada vez mais - ocupando espaço de comunidades indígenas e subjugando sua população (muitos nativos se tornaram escravos por dívida).

Emiliano, descendente de Espanhóis e nativos da América, acompanhou de perto essa expansão proto-capitalista no México rural, e foi responsável por redistribuições de terras no estado de Morelos. Cansado da luta política pela retomada de posse de áreas que agora eram exploradas pelos hacendados, Zapata começou a fazer uso de força armada para se apossar de terras que estavam sendo disputadas.

No ano de 1910, Zapata toma frente do chamado Exército de Libertação do Sul, fazendo parte de toda a rebelião que tira Diaz do poder - com Francisco Madero tomando sua posição no governo (este apoiado por Zapata no Sul e por Pancho Vila no Norte).

Porém a eleição presidencial e a reforma agrária, prometidas por Madero, não saíram do papel e Zapata mobilizou novamente o exército de libertação.

A luta foi ampliada quando Madero foi deposto por Victoriano Huerta, general porfirista, que controlou as frentes indígenas impedindo o avanço de suas reivindicações.

Huera, por sua vez, foi deposto por Venustiano Carranza - que primeiramente foi apoiado por grupos revolucionários do Norte e do Sul, mas depois os perseguiu (inclusive pagando bem pela morte de Emiliano Zapata).

A morte de Zapata, em 1919, transformou-o em um mártir e sua luta, principalmente pela reforma agrária, inspira o Movimento Zapatista e seu Exército de Libertação Nacional.

O que é o Movimento Zapatista?

É uma guerrilha que nasceu no estado de Chiapas, obviamente inspirada por Emiliano Zapata. 



Os zapatistas ganharam fama internacional no dia 1º de janeiro de 1994, quando uma milícia com homens encapuzados – o Exército Zapatista de Libertação Nacional – ocupou as prefeituras de diversas cidades na região de Chiapas. Os zapatistas queriam chamar a atenção do mundo para as três principais reivindicações do movimento:

1. O fim da marginalização dos indígenas locais, descendentes dos maias;

2. A extinção do NAFTA, o tratado de livre comércio entre México, Estados Unidos e Canadá, visto por eles como exemplo de submissão ao poder americano;

3. Combater a corrupção na política local. 

“Pela primeira vez na história, a luta armada não foi empregada para derrubar o sistema, mas para exigir a inclusão nele. Os zapatistas queriam a abertura do diálogo e o reconhecimento dos índios na discussão do sistema democrático”. A ação durou pouco: pressionados pelo exército mexicano, os zapatistas deixaram as cidades horas depois. Alguns guerrilheiros foram presos ou processados, mas ninguém morreu. “A guerrilha nunca mais disparou uma bala. Mas ela se manteve em evidência por usar muito bem a internet e a televisão para divulgar manifestos e cobrar o governo”, afirma o historiador Guilherme Gitahy de Figueiredo, da Universidade Estadual do Amazonas. Hoje, o movimento é uma importante força política no México – seus representantes já foram recebidos até pelo presidente do país.

Atualmente o grupo tem um braço político (o chamado Congresso Nacional Indígena) e poderá lançar um candidato independente para a eleição presidencial que ocorre em Julho de 2018.

[correção] A representante do grupo Maria de Jesús Patrício Martinez, conhecida como Marichuy, registrou em Outubro passado a sua candidatura a presidenta do México.

Uma das figuras mais reconhecidas do movimento é o senhor Rafael Guillén Vicente, professor da Universidade Metropolitana Autônoma, porta voz do grupo e conhecido como Subcomandante Marcos. Recentemente Guillén afirmou que seu personagem não existe mais (no caso disse que já estava morto). Essa notícia pode ser lida nesse link onde ele explica a "morte" do Subcomandante Marcos e "nascimento" do Subcomandante Insurgente Galeano.

Enfim, a luta por uma inclusão social dos grupos nativos do México ainda persiste naquele país. Não cabe a mim julgar quais decisões foram corretas ou equivocadas neste período, porém vale citar que acredito que a luta pela inclusão destes povos - e de todos os povos nativos da América - é uma condição que deve ser buscada por todos que nasceram neste continente.

Prof. Marcelo Caetano










sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

NINGUÉM liga para o Iêmen

Um conflito sangra este país do Oriente Médio.

Porem pouco se sabe sobre o que está acontecendo por lá.

Neste primeiro material de 2018 sobre Geopolítica e Atualidades, vamos acompanhar um pouco do que acontece com o Iêmen.


Sabendo um pouco mais sobre o país.

O Iémen (português europeu) ou Iêmen (português brasileiro)é um país árabe que ocupa a extremidade sudoeste da Península da Arábia. É limitado a norte pela Arábia Saudita, a leste por Omã, a sul pelo mar da Arábia e pelo golfo de Áden, do outro lado do qual se estende a costa da Somália e a oeste pelo estreito de Bab el Mandeb, que o separa de Djibouti, e pelo mar Vermelho, que providencia uma ligação à Eritreia. Além do território continental, o Iémen inclui também algumas ilhas situadas ao largo do Corno de África, das quais a maior é Socotorá.

A capital e cidade mais populosa do país é Saná.

























Mas o que vem causando conflitos dentro desse território?

O Iêmen é marcado por muitos derramamentos de sangue. Até início dos anos 60 o país era dividido: parte era governada por Britânicos (o Sul) e parte governada por uma monarquia local (o Norte). Vários golpes foram acontecendo em ambas as regiões - e muitos morreram no processo. No "fim" de tudo isso o país foi unificado durante os anos 90.

O atual momento vivido pelo Iêmen tem suas raízes na Primavera Árabe de 2011, onde manifestações por democracia invadiram as ruas do país. A pressão popular fez com que o presidente Ali Abdullah Saleh  (no poder já há 33 anos) cedesse com concessões econômicas (e negando-se veementemente a sair da presidência).


























Em Março do mesmo ano as tensões entre a oposição, polícia e exército aumentaram. Segundo os opositores, cerca de 850 pessoas morreram. Em Novembro do mesmo ano Saleh sai do poder - ficando no posto o seu vice imediato, Abd Rabbuh Mansur al-Hadi (que preparou o país para as eleições que aconteceriam no início do ano seguinte - e tinham ele mesmo como único candidato). Todas as tentativas de Hadi em mudar a constituição e orçamento do país foram rechaçadas e causaram ainda mais revolta entre os rebeldes Houthis - oriundos da região Norte do território.

Em setembro de 2014, depois de anos de caos e violência, insurgentes houthis tomaram a capital, forçando Hadi a mudar seu governo para a cidade portuária de Aden, no sul do país.

A disputa entre Houthis e as forças oficiais do governo.

Podemos dizer que o conflito é disputado por dois lados de uma mesma moeda. Os insurgentes Houthis fazem parte de um ramo de muçulmanos xiitas conhecidos como zaidistas e são apoiados pelo Irã. Do outro lado temos o governo oficial, apoiado por uma coalizão sunita encabeçada pela Arábia Saudita.


Nota do professor: Podemos perceber a queda de braço entre Irã e Arábia Saudita buscando maior influência no Oriente Médio e, principalmente, na Península da Arábia. O primeiro conta com cerca de 90% de sua população xiita (daí o apoio aos zaidistas). Já o segundo conta com cerca de 86% de sua população sendo sunita - o ramo do islamismo mais comum no planeta (daí vem o apoio ao governo de al-Hadi).


Desde março de 2015, mais de 8,6 mil pessoas foram mortas e 49 mil ficaram feridas, muitas em ataques aéreos liderados pela coalizão árabe.

Em meio à guerra, o país sofre com bloqueios comerciais impostos pelos sunitas. Em decorrência disso, estima-se que cerca de 20 milhões de pessoas não tenham conseguido receber a ajuda humanitária enviada via portos e aeroportos e criou a maior situação de fome da história recente.

Nota do professor: Observando o mapa podemos perceber que os rebeldes xiitas estão cercados por áreas em que os sunitas são maioria expressiva (caso da Arábia Saudita) ou os Ibaditas (que são maioria em Omã, país esse que fechou suas fronteiras com o Iêmen).

A ONU classifica a situação no Iêmen como a pior crise humanitária do mundo - além da guerra civil, há milhões de pessoas morrendo de fome e uma epidemia de cólera está em curso.

No começo do mês de Dezembro (em 2017), Ali Abdullah Saleh, que governou o país por 33 anos até ser deposto durante a Primavera Árabe em 2011, foi assassinado por rebeldes. Saleh já era considerado um aliado dos houthis, mas foi considerado "traidor" por se dizer disposto a dialogar com a Arábia Saudita, que apoia o governo iemenita.




















O conflito entre as partes entrou pelo ano de 2018 e parece não ter um fim próximo, por isso muitos grupos já citam o Iêmen como o país com a maior crise humanitária deste final de década.

O que acontece por lá é apenas parte de uma complexa situação que envolve diversos países do Oriente médio - e que precisa ser acompanhada atentamente por todos nós.

Prof. Marcelo Caetano