Toda Sexta Feira um assunto de geopolítica/atualidades pinga aqui no blog. Hoje começaremos uma jornada pelo continente americano, falando sobre revoluções, revoltas ou grupos revolucionários.
Não usei critérios temporais para iniciar o assunto, usei apenas um mapa e apontei para o país que está mais ao Norte - no caso o México - para dar início aos trabalhos.
Mas o que falar do México? Aí embaixo temos a resposta.
O Movimento Zapatista e o Exército Zapatista de Libertação Nacional
Quem foi Emiliano Zapata?
Chamado também de "Caudilho do Sul", Zapata foi um dos grandes líderes na luta contra a ditadura de Porfirio Diaz (líder assim da Revolução Mexicana de 1910).
Zapata nasceu em um país onde a concentração fundiária era cada vez maior. As grandes haciendas (fazendas) cresciam cada vez mais - ocupando espaço de comunidades indígenas e subjugando sua população (muitos nativos se tornaram escravos por dívida).
Emiliano, descendente de Espanhóis e nativos da América, acompanhou de perto essa expansão proto-capitalista no México rural, e foi responsável por redistribuições de terras no estado de Morelos. Cansado da luta política pela retomada de posse de áreas que agora eram exploradas pelos hacendados, Zapata começou a fazer uso de força armada para se apossar de terras que estavam sendo disputadas.
No ano de 1910, Zapata toma frente do chamado Exército de Libertação do Sul, fazendo parte de toda a rebelião que tira Diaz do poder - com Francisco Madero tomando sua posição no governo (este apoiado por Zapata no Sul e por Pancho Vila no Norte).
Porém a eleição presidencial e a reforma agrária, prometidas por Madero, não saíram do papel e Zapata mobilizou novamente o exército de libertação.
A luta foi ampliada quando Madero foi deposto por Victoriano Huerta, general porfirista, que controlou as frentes indígenas impedindo o avanço de suas reivindicações.
Huera, por sua vez, foi deposto por Venustiano Carranza - que primeiramente foi apoiado por grupos revolucionários do Norte e do Sul, mas depois os perseguiu (inclusive pagando bem pela morte de Emiliano Zapata).
A morte de Zapata, em 1919, transformou-o em um mártir e sua luta, principalmente pela reforma agrária, inspira o Movimento Zapatista e seu Exército de Libertação Nacional.
O que é o Movimento Zapatista?
É uma guerrilha que nasceu no estado de Chiapas, obviamente inspirada por Emiliano Zapata.
Os zapatistas ganharam fama internacional no dia 1º de janeiro de 1994, quando uma milícia com homens encapuzados – o Exército Zapatista de Libertação Nacional – ocupou as prefeituras de diversas cidades na região de Chiapas. Os zapatistas queriam chamar a atenção do mundo para as três principais reivindicações do movimento:
1. O fim da marginalização dos indígenas locais, descendentes dos maias;
2. A extinção do NAFTA, o tratado de livre comércio entre México, Estados Unidos e Canadá, visto por eles como exemplo de submissão ao poder americano;
3. Combater a corrupção na política local.
“Pela primeira vez na história, a luta armada não foi empregada para derrubar o sistema, mas para exigir a inclusão nele. Os zapatistas queriam a abertura do diálogo e o reconhecimento dos índios na discussão do sistema democrático”. A ação durou pouco: pressionados pelo exército mexicano, os zapatistas deixaram as cidades horas depois. Alguns guerrilheiros foram presos ou processados, mas ninguém morreu. “A guerrilha nunca mais disparou uma bala. Mas ela se manteve em evidência por usar muito bem a internet e a televisão para divulgar manifestos e cobrar o governo”, afirma o historiador Guilherme Gitahy de Figueiredo, da Universidade Estadual do Amazonas. Hoje, o movimento é uma importante força política no México – seus representantes já foram recebidos até pelo presidente do país.
Atualmente o grupo tem um braço político (o chamado Congresso Nacional Indígena) e poderá lançar um candidato independente para a eleição presidencial que ocorre em Julho de 2018.
[correção] A representante do grupo Maria de Jesús Patrício Martinez, conhecida como Marichuy, registrou em Outubro passado a sua candidatura a presidenta do México.
Uma das figuras mais reconhecidas do movimento é o senhor Rafael Guillén Vicente, professor da Universidade Metropolitana Autônoma, porta voz do grupo e conhecido como Subcomandante Marcos. Recentemente Guillén afirmou que seu personagem não existe mais (no caso disse que já estava morto). Essa notícia pode ser lida nesse link onde ele explica a "morte" do Subcomandante Marcos e "nascimento" do Subcomandante Insurgente Galeano.
Enfim, a luta por uma inclusão social dos grupos nativos do México ainda persiste naquele país. Não cabe a mim julgar quais decisões foram corretas ou equivocadas neste período, porém vale citar que acredito que a luta pela inclusão destes povos - e de todos os povos nativos da América - é uma condição que deve ser buscada por todos que nasceram neste continente.
Prof. Marcelo Caetano
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